terça-feira, 9 de julho de 2013

Ecstasy conquista uma nova roupagem e um novo público


The New York Times
Uma droga conhecida como Molly conquistou uma nova geração de profissionais conscienciosos que jamais viraram a noite dançando e costumam fazer escolhas cuidadosas quanto a sua comida, seu café e suas roupas. Mas a Molly não é exatamente nova.

Conhecida por causar sentimentos de euforia e por reduzir a ansiedade, ela era conhecida como ecstasy, ou MDMA, nos anos 1980, quando foi rapidamente adotada por operadores de Wall Street e outros frequentadores da vida noturna de Nova York.
Mas, com o crescimento da demanda, cresceu também o uso de adulterantes em cada pílula -cafeína, anfetamina, efedrina, cetamina, LSD, talco e aspirina. Quando chegou o novo milênio, a reputação da droga já estava abalada.
Depois, em algum momento da década passada, ela retornou às casas noturnas sob o nome "Molly" e foi apresentada como uma versão cristalina e em pó do MDMA: pura e segura.
Uma mulher de 26 anos chamada Elliott, que trabalha com cinema, levou Molly alguns meses atrás ao apartamento de um amigo, de onde eles saíram para jantar no Souen -um popular restaurante macrobiótico, natural e orgânico do East Village- e em seguida foram dançar. "As drogas sempre me apavoraram um pouco", diz. "Mas estava curiosa quanto a Molly, que as pessoas dizem ser uma droga pura e divertida."
"Eu provavelmente estou sendo ingênua", disse, "mas senti que não estava colocando tantos produtos químicos no meu corpo".
Robert Glatter, médico no pronto-socorro do hospital Lenox Hill, em Nova York, discorda. O Dr. Glatter costumava passar meses sem ouvir sobre o uso de Molly, mas agora recebe cerca de quatro pacientes ao mês exibindo os efeitos colaterais usuais da droga: o ranger dos dentes, a desidratação, a ansiedade, a insônia, a febre e a perda de apetite.
Sintomas colaterais mais perigosos incluem hipertermia, convulsões incontroláveis, alta pressão sanguínea e depressão causada pela queda súbita dos níveis de serotonina nos dias posteriores ao uso da droga, um efeito apelidado de "terça-feira suicida".
"No passado, os pacientes eram os jovens das raves, mas agora recebemos cada vez mais pessoas na casa dos 30 e dos 40 anos que decidiram experimentar a droga", disse o Dr. Glatter.
Muita gente atribui o ressurgimento do ecstasy ao retorno da electronic dance music, que infiltrou o som de cantoras pop como Rihanna, Kesha e Kate Perry. No Ultra Music Festival, em Miami, no ano passado, Madonna foi criticada por perguntar ao público: "Quantas pessoas por aqui conhecem a Molly?". Ela disse mais tarde que estava falando de uma amiga, não da droga.
Nos últimos meses, os rappers também adotaram a droga, com referências a Molly em suas letras. Rick Ross recentemente teve seu contrato publicitário com a Reebok cancelado depois de um rap no qual falava que havia misturado a droga à bebida de uma mulher sem que ela soubesse.
John Amis - 29.set.2012/Associated Press
Rick Ross, um dos mais famosos Rappers atuais, se apresentou em Atlanta, nos Estado Unidos
Rick Ross, um dos mais famosos Rappers atuais, em apresentação na cidade de Atlanta, Estado Unidos, antes de ter o contrato cancelado
As pessoas que gostam de Molly, cujo preço varia de US$ 20 a US$ 50 por dose, dizem que ela é uma droga socialmente mais aceitável que a cocaína, por não causar vício físico. Cat Marnell, 30, antiga diretora de beleza da xoJane.com, que recentemente vendeu à editora Simon & Schuster um livro que fala de seu vício em drogas, supostamente por US$ 500 mil, disse que "a Molly está na moda". Em referência à maconha e à cocaína, ela diz que "a cocaína é meio suja e antiquada. Já a maconha tem cheiro forte e, por ser barata, tem jeito adolescente".
Mas Marnell rejeita a imagem reformada do MDMA, dizendo que a Molly "continua a ser uma droga pesada", O MDMA, o metilenodioximetanfetamina, foi patenteado pelo laboratório farmacêutico Merck em 1914 e não atraiu muita atenção antes dos anos 1970, quando psicoterapeutas começaram a tratar pacientes com ele para convencê-los a falar mais de seus problemas.
A droga chegou às casas noturnas de Nova York no final dos anos 80 e no começo dos 90 havia se tornado a droga preferida das raves. Para alguns, a Molly continua a ser uma substância mais respeitável que outras drogas. "Creio que as pessoas hoje sejam mais conscientes de onde a cocaína vem e do que ela causa naqueles países", diz Sarah Nicole Prickett, 27, que escreve para os sites Vice e New Inquiry. Ela define a cocaína como "uma droga sangrenta" e caracteriza a Molly como "pura, divertida e de agradável sensação".
Rusty Payne, da Agência de Combate às Drogas (DEA) norte-americana, diz que boa parte do MDMA vendido nos Estados Unidos vem do Canadá e da Holanda.
Prickett, que se mudou de Toronto para Nova York no ano passado, diz que compreende por que a droga ganhou popularidade na cidade. "Minha impressão de Nova York era a de que todo mundo usava drogas no trabalho e todo mundo usava anfetaminas", diz. "Já a Molly causa uma sensação de espontaneidade, o que é um sentimento incomum em Nova York".

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